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Aonde fores, por onde fores, encontrarás palavras. Nem sempre tão belas. Mas podes torná-las melhores que
são. Um abraço! Marcio Campos

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Os andrajos



Há alguns anos atrás passou por essas bandas, certo homem, de aparência estranha e que despertava em cada ser que o olhava certa repugnância e nojo.
O pobre ao aproximar-se das crianças metia-lhes medo e fazia com que algumas corressem apavoradas enquanto outras, em coro, entoavam em hino... “doido, doido, doido...”
E faziam troça dele, riam e se divertiam com o mesmo.
 Algumas crianças, mais malvadas, chegavam a jogar pedras, ferindo-lhe.
Alguns pais repreendiam seus filhos ensinando-os que não podemos humilhar machucar ou rir de quem quer que seja ensinando a seus filhos que fomos criados a imagem e semelhança de Deus e que o hoje pode nos favorecer perante os outros, aparentemente, e o amanhã pode nos cobrar nossa falta de amor diante de nossos irmãos.
Outros fingiam não perceber o que seus filhos faziam dando de ombros e até justificando suas atitudes por ser o mesmo um desconhecido, que não deveriam ter contato com o mesmo e que o melhor seria enxotar dali aquele que não fazia parte das famílias da comunidade.
Os restantes além de apoiarem, incentivavam as crianças para que maltratassem àquele desconhecido, desgraçado que por ali parava.
Quando as casas exalavam o cheiro do almoço, as portas e janelas se fechavam para não dividirem com aquele ser o pão precioso que serviria para alimentar suas fomes.
De todas as casas daquele lugarejo somente um pequenino casebre mantinha aberta sua portinhola convidando àquele desprezado a achegar-se e adentrar para cear a pouca ceia que  se preparava.
Na casa de dona Sinhana, aquele pobre homem, encontrava aconchego, amor e alimento para o corpo fraco e cansado das pedradas doídas, atiradas por aqueles que não conseguiam compreender o sofrimento alheio.
Diante da tanta bondade o homem que recebia da velhinha, todos os dias, amor, carinho e comida, reparando nos arredores viu que naquele lar maravilhoso a higiene só se encontrava nas panelas que pareciam espelho e ofereceu ajuda para assear a casa que o abrigava todos os dias para o almoço.
No primeiro dia retirou todo o lixo que ali se acumulava. Era tanto que no final da tarde o mesmo ainda não tinha terminado de limpar tanta sujeira. A partir daí o mesmo começou a intrigar-se com a velhinha que o acolhia com tanto amor. Percebia que seu fogão a lenha era branquinho passadinho de barro branco e suas vasilhas sempre limpinhas. Mas o restante não.
No outro dia, acordou, levantou-se, e antes da meninada passar em frente ao abrigo para a escola, rumou para a casa de D. Sinhana com o intuito de terminar o que havia começado.  Acabou de retirar o lixo da casa e começou a limpar o quintal que também acumulava não só lixos como também grande quantidade de mato. 
Quando terminou à tarde ela lhe ofereceu uma muda de roupa, cheirando a naftalina, de um filho que partira a tanto que nem mais se lembrava o quanto.
Ele tomou banho limpou as feridas, olhou-se no espelho depois de muitos anos e chorou...
Chorou copiosamente o choro de todas as pedradas que a vida havia lhe dado e o mesmo fingira não sentir. Passou a mão pelo rosto barbudo e cheio de cicatrizes e feridas, olhou seus cabelos longos, agora tingidos de uma cor que não era mais aquele misto de sujeira e emprasto, e lembrou-se quantas vezes aqueles cabelos loiros foram afagados por mãos amorosas.
 Depois de um longo tempo sentiu-se com a alma lavada e olhou dentro de seus olhos vermelhos de tanto chorar e os viu azuis iguais ao da velha senhora que lhe acolhia todos os dias para dar-lhe alimento.
Foi-se.  E naquela noite rememorou todos os sonhos de antes.
Levantou-se e com o mesmo barro que a velhinha caiava o fogão caiou toda a casinha que há muito perdera a cor.
Para dar um toque especial foi até o quintal, retirou outras cores de argila e passou um lindo barrado amarelo na casa por dentro e por fora. Com a argila rosa desenhou ramos de flor na parede da rua. Quando terminou, entrou, banhou-se, deu um longo abraço de gratidão naquela que recussitara-lhe a vida e ainda intrigado perguntou-lhe onde estava o filho. Ela chorando disse que logo na esquina. Ele era o dono da venda, e que como era cega ele e a família a abandonara ali.
Abraçou-a mais uma vez pegou um par de andrajos da velhinha e um seu e pendurou-os à porta.
Quando foi embora já com grande parte de suas feridas cicatrizadas passou pela rua sob os olhos perplexos e curiosos daquele vilarejo que indagava...
Quem era aquele belo homem?

Márcio Campos 
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6 comentários:

Paulo Francisco disse...

Adorei o texto. mas cofesso: eu era uma das crianças que gritava doido para o homem. Os meus país, coitados, não sabiam o filho que tinham.
Um abraço

flor do lácio disse...

Paulo, obrigado pelo comentário. Estou em dívida com vc. Vou visitá-lo.
Um abraço.

Lindalva disse...

clap clap clap... que texto belissimo... este é meu amigo Marcio... :)... Esquecestes o caminho da Ilha? :( Estou passando para te convidar para o 6º Pena de Ouro e conto com tua presença no meu Ostra da Poesia – te espero na Ilha. Um beijo enorme no coração.

MISSIONÁRIA DIANA disse...

OLÁ ESTOU SEGUINDO VIM ATÉ AQUI ATRAVÉS DO BLOG DA LINDALVA ABRAÇO E PARABÉNS PELO SEU CANTINHO CHEIO DE ENCANTO!!!

Lindalva disse...

Amigo por onde andas? que aconteceu? :( já passamos o 6º e amanhã começa o 7º Pena... dá notícias :( beijos no coração.

Poemas em Cards Diversos Poetas disse...

Oi Márcio,
que lindo o teu blog, muito
interessante e convidativo.
Seguindo-te!
Beijos
Eu! Leilinha