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são. Um abraço! Marcio Campos

quarta-feira, 12 de maio de 2021

Crônica de um professor na pandemia

 Crônica de um professor


Hoje, acordei às 6h. Algo inquietante não me deixou ficar na cama. Nem o frio cortante da manhã me deixou enrolado no calor das cobertas, pois algo precisava ser feito em favor daqueles peregrinos. 

Dei um sobressalto, passei a mão no recurso didático e parti rumo à cozinha. 

Em meio aos pensamentos que fervilhava coloquei a água para ferver, liguei o regador, enquanto as gatas miavam atrás de mim pedindo a sua ração.

Escovei os dentes, coloquei a ração das gatas, isto depois de reclamar com elas que eu ainda nem tomara meu café. A chaleira apitou, coei o café, tomei um café bem forte e parti para o plano infalível.

De posse do recurso didático, resolvi - vou gravar um áudio para os pais. Depois de pronto lá estava eu novamente com outro plano - melhor gravar para os alunos.

Vídeo gravado, parti para o ataque. Postei em todos os grupos e parti para a aula. Novamente com outro recurso didático em punho, desta vez bem maior, lá estava eu correndo atrás daqueles que ainda gostariam de embarcar, ou que os pais enviaram para a viagem. Isto me remonta à minha infância- como era doce os verdes anos de minha vida!- Doce nada, era bem ácido, ai de mim ou dos meus colegas se chegassem em casa com um bilhete ou um recado da professora trazido por um irmão ou colega - a surra era certa. Nota vermelha nem se fala. Mas era uma infância feliz e que nos preparava para uma vida mais responsável.

Neste ínterim, um desembarcado chama no privado e pergunta se ele entregara tudo e se estivera entre aqueles que ora foram mencionados  no grupo como quem tivera entregado todas as tarefas. Como será que uma pessoa se digna a fazer tal pergunta se não o fizera. Indago-me e educadamente relato que não pois até o momento não recebera nenhuma atividade do mesmo em nenhuma das duas embarcações que dirijo.

Enquanto fazia uma transmissão, o recurso didático apitou. Era uma transeunte que pedia que a ajudasse com os filhos e a ela também. Parei um pouco, respondi que sim e toquei o barco, agora mais pesado pois a carga aumentava e ainda precisava arrebanhar mais passageiros. 

Parti sem rumo e sem porto e como diz o ditado quem tem boca vai a Roma. De posse do recurso digital procurei um ombro amigo. Nessas horas é melhor dividir a carga ou até mesmo acumular mais um peso. 

Nesta profissão se tem um professor desesperado  com certeza você encontra outro da mesma maneira ou até com uma carga maior. Daí o muro das lamentações cresce e o rumo pode até mesmo aparecer.

Desabafo feito, motor ligado a nau partiu de porto em porto. A cada cais uma promessa de entrega da mercadoria em dia ou até mesmo de carga pronta para ser carregada. Outros nem sequer ligaram o farol para melhorar a direção, deixaram-me partir em nevoeiro denso. Finda a primeira parte da viagem parei por volta das treze horas para preparar o alimento que me nutriria o corpo e entre mensagens e ligações parei para o repasto pensando em como escrever esta crônica e respondendo mensagens de   algum aspirante a marinheiro que ainda se encontrara perdido.


Autor Marcinho


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