Somente quando eu o conheci, “percebi o quanto estava errada”.
Naquela noite, a balada estava demais.
Logo quando cheguei à boate pude perceber que era o dia de me esbaldar.
Escolhi aquela boate, primeiro por saber que ali só gatinhos e depois por
ali estar a mais fina nata da sociedade belo horizontina.
Esperara tanto tempo para estar ali, juntara cada centavo do minguado
salário que tinha que dividir com a faculdade e me dispusera a sair à caça.
Era um mundo de sonhos que não penetrara ainda por não dispor de numerários.
Ali, no bar mesmo, vi dois carinhas tão lindos que nem resolvi dar continuidade
a minha caça- um já era suficiente, mas dois... abandonados! Um mesmo só me
bastaria.
Peguei a bebida, ajeitei o cabelo, retoquei o batom e me aproximei. Ao me aproximar pude perceber que eu estava
errada em minha avaliação anterior... Que decepção! Eram, ainda, mais lindos!
Que simpatia, aliás, simpatias, convidaram
para sentar-me e comecei a jogar meu charme de felina no cio que não
sabia para que lado atirar.
Deuses gregos, longe do Olimpo, e ainda sós. A conversa fluía animada.
Altos drinques, dança e uma boa dose de sedução.
Lógico que a investida final não poderia ser ali. Teria que ser em outro
momento, pois qualquer paixão daquelas me divertiria.
Passamos a noite juntos e só saímos da boate lá pelas 6 da manhã.
Trocamos os telefones e fomos para nossas casas.
Para minha surpresa, na sexta seguinte fui chamada para sair de novo por
um deles.
Ao chegar à boate encontrei os dois a me esperar e tudo como antes.
De lá fomos para o sítio da família de um deles, ali nas proximidades de
Santa Luzia.
Fim de semana maravilhoso! Éramos agora amigos.
A partir daí não mais nos desgrudávamos. Mas a relação não fluía nem por
um lado nem por outro.
Num destes nossos finais de semana viajamos para o sítio e ao acordar à
noite notei que nenhum dos dois estava em casa. Percebi que no jardim estavam a
conversar e fui para lá para somar o terceiro lado do triângulo.
Quando cheguei percebi notei que em meio às flores eles não só conversavam
como trocavam carícias.
Notaram que eu chegara e nem sequer mudaram de atitude. Espantada,
perguntei o que faziam e se não me notavam uma vez que estivera ali o tempo
todo, a esperar que pelo menos um deles me desse uma migalha de carinho, maior
que o da amizade.
Entre olhares, sem terem o que dizer de imediato pela reação histérica que
tivera Viny levantou-se pegou a minha mão, conduziu-me para dentro, sentou-me
no sofá, trouxe-me um copo d’água e pegou um livro de William Shakespere e
recitou o soneto 116 que dizia:
"Permitam
me, ao casamento
de mentes verdadeiras não admitir impedimentos
Amor não é amor se mudar quando mudanças encontrar
Ou vacila diante daqueles que querem lhe afastar
Amor não é amor se mudar quando mudanças encontrar
Ou vacila diante daqueles que querem lhe afastar
Ah não, Amor é um marco eterno
Que olha para a tormenta e nunca se abala
É a estrela de cada latido errante
Cujo valor é desconhecido, embora seja conhecida sua altura.
O
amor não é um Bobo do tempo,
Embora lábios e bochecas rosadas atraiam a bússola de sua
foice flexível
O Amor não se altera com horas breves ou semanas
O Amor não se altera com horas breves ou semanas
E aguenta firme mesmo à beira do abismo
E
se a mim for provado que isso está errado
Então eu nunca recitei, nem nenhum homem jamais Amou."
Então eu nunca recitei, nem nenhum homem jamais Amou."
Ao concluir, me disse – “esse soneto lhe dirá exatamente o que fazer, tem
a exata medida de nosso amor de amigo por você e que a respeitam. Podemos
continuar ofertando-lhe a amizade que sempre tivemos por você. Amamos-nos e
amamos você, minha amiga. Queremo-la ao nosso lado sim- alegre, divertida,
companheira de muitas horas. Mas quando me disse que não acreditava em amor entre
homens você simplesmente externou preconceitos que não deixaram ver o nosso
amor. Estivemos sempre ao seu lado e em nenhum momento demo-la esperança alguma.
Ofertamo-la nosso amor de amigos e isso não pode negar. Estamos de braços
abertos para que continue a fazer parte desse triângulo de amigos.”
Beijou-me ternamente e foi-se.
Dormi anestesiada, ali mesmo.
Quando acordei, rememorei nossa conversa. Vi o quão ignorante fui e o
quanto me deixei levar pelo preconceito.
Pedi desculpas e percebi que somente o conhecera naquele momento - então
percebi o quanto estava errada. Fui fútil,
interesseira e aguardava do outro somente e que não pude ofertar.
A ele devo ter me aberto os olhos e me tirado daquela cegueira.
Somente os que amam verdadeiramente conseguem ser generosos
com os ignorantes.
Edição Conto/História
Tema: Então percebi o quanto estava errada.
Tema: Então percebi o quanto estava errada.
3 comentários:
A imagem do triangulo com a palavra amor já é um poema. Muito bom.
Um abraço
Adoro escrever sobre este tema, é instigante, misterioso e causa uma evolução no texto.
Obrigada por sua visita, ficamos feliz com seu comentário!
Abraços,
Adriana
O CLUBE DOS NOVOS AUTORES
Obrigado pelo carinho, Adriana.
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