BEM-VINDO!!!

Aonde fores, por onde fores, encontrarás palavras. Nem sempre tão belas. Mas podes torná-las melhores que
são. Um abraço! Marcio Campos

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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Carta aos Navegantes


Dores de Guanhães, 18 de agosto de 2011.

A quem interessar, possa.

Dentro desta caixinha que confeccionei com amor, guardei três tesouros que cultivei com amor durante a vida.
Talvez quando a encontrarem não mais estarei aqui, pois o contar de vida meu são minutos que faço questão de aproveitar.
Consumido pela dor da inconsequência de meu ato falho trago no meu peito arfante o pouco de vida que ainda me resta, pois pensando aproveitá-la, destruí-a.
Destruí-a com meus vícios e minha arrogância de jovem louco e inconsequente.
Para me divertir, e dar vazão aos meus sentimentos, bebi, fumei, cheirei, me piquei.
Dei prazer e tive um falso prazer. Amealhei em meus inconsequentes atos muitos desafetos e muitos inimigos.
Tive um único amor – minha mãe. Dei-lhe todo trabalho do mundo. Xinguei-a, abandonei-a em todos os momentos em que ela precisava de mim, bati nela e ela nunca me abandonou. Ao contrário sempre esteve ao meu lado, como agora com o mesmo olhar piedoso, que nunca recriminou, sempre amou.
No fundo da caixa verá um botão de rosa seco, era uma rosa roxa que colhi para representar esse amor.
As roseiras roxas que mamãe cultivava em frente a nossa casa, no jardim, sempre estiveram belas.
E, ela sempre me dizia quando nervosa comigo – Quem me dera você me retornasse o amor que tenho por você como minhas roseiras. O cuidado que tenho com elas todos os dias são retornados em belíssimas rosas que nunca cessam. De ti cada gesto de amor que tenho recebo de volta espinhos dolorosos que não sangram, mas deixam o veneno da dor em meu coração.
Amigos tive-os aos montes, falsos. Mas tive uma amiga, em particular, que merece destaque neste meu relato. Era dela que sempre recebia um abraço caloroso daqueles em que encontra coração com coração- ela o ensinara-me. Era um abraço que se dava com um braço passando por baixo do outro e o outro braço enlaçando o pescoço da pessoa a quem se abraçasse.
Sempre me dizia - pessoas que se amam se abraçam dessa forma para que os corações se encontrem.
Sentada comigo por horas sem fim desfiava rosários de conselhos com uma sabedoria que me magnetizava.  Era, sem dúvida, amiga.
Encontrará também uma for de pétalas compridas que não se abriam. Eram cilíndricas, antes vermelha, de um vermelho vivo, que quando floresciam com vigor cobriam a árvore num  espetáculo majestoso.
Com essa árvore tecia-me lições de vida espetaculares, comparando-a a nós.
A árvore é o mulungu, que nesse agosto em que me despeço está maravilhosamente florida como a mostrar-me que apesar dos problemas a vida prossegue.
Finalmente encontrará também dissecada, aquela que representa os poucos sonhos que tive na vida. Tem uma pétala que se abre rendada e fecha-se num cone na parte inferior.
 Era amarela, também intensa.
E nesse fim de agosto começa a despontar para saudar a primavera.
Olho para o pé de ipê, daqui da minha janela, e fico vislumbrando os cachos aumentando dia após dia para mostrar a beleza de uma árvore sem graça, não muito notada antes da florada por ter seus galhos tortos e uma casca áspera e acinzentada.
Dizia a ela, eu sou assim ninguém me nota. Sou áspero e torto como seus galhos.
E ela num doce sorriso me dizia “conheço bem sua aspereza, mas sei da beleza das flores que brota dentro de seu coração, meu menino”.
Ao terminar de ler, publique-a para que alguém que tenha vivido num mundo fechado e para se abrir procurou caminhos tortos possa refletir.
E tomar rumos mais belos.

Carinhosamente, o que nunca fui, um Inconsequente.
P.S. Riam mais, pratiquem mais esportes, amem mais e acima de tudo amem-se.
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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Levaram-na de mim...

Lembro-me daquela escolinha onde frequentava o pré-escolar.
Ah! a Tia era doce como ninguém jamais fora durante a minha vida estudantil.
Lembro-me de cada música que ela nos ensinara nos dias felizes de minha infância.
Eu, pequenina, em meus vestidinhos de seda, alvos e rodados, sempre com uma rosa roxa pregado no cintinho que enlaçava minha cintura, cantava aquelas canções com a alegria viva da criança...
"cai cai balão
cai cai balão
aqui na minha mão..."
"O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada
O cravo saiu ferido
E a rosa despetalada..."
"A barata diz que tem 
Sete saias de filó 
É mentira da barata
Ela tem é uma só..."
e tantas outras.
Meus coleguinhas eram uns amores, mas a Malva era a que eu menos gostava. era maior que todos nós. Tinha um ar de mandona e batia em quase todo mundo, por isso não gostava muito dela.
Mas em meu mundo encantado, esquivava-me dela, e sempre estava rodeada de meus doces amiguinhos.
Quando não estava em festa com a turma eu me sentava num balancinho, encostado em um canto, e enlevada pelo doce balanço abria minha caixinha que mamãe me dera e lá ficava a balançar e olhar para seu interior. 
Quantas vezes, fui despertada pelo soar do sino a tocar dizendo que era hora voltar para a sala de aula.
Quando isso acontecia, fechava minha caixinha de madeira que tinha um fecho à frente e em cima uma pintura de uma rosa roxa com matizes brancos e roxos claros que mamãe fizera. 
Num dia desses em que não estava tão festiva peguei minha caixinha e fui para o balanço. 
As outras crianças, e eu me certificara disso, estavam nos outros brinquedos  brincando distraídas, e furtivamente, como sempre fazia, lá fui eu.
Abri minha caixinha, comecei a balançar e, dentro dela, mergulhei na canção que mamãe sempre cantava para mim. Ela a adaptara para cantar só para mim.
" Terezinha de Jesus
De uma queda foi ao chão
Acudiram três cavalheiros
Todos três chapéu na mão
O primeiro foi  seu pai
O segundo seu irmão
O terceiro foi a Mamãe
A quem a Teresa deu a mão
Da laranja quero um gomo
Do limão quero um pedaço
Da menina mais bonita 
quero um beijo e um abraço."
Quando terminava me elevava aos céus, me rodopiava e abraçava-me entre risos e me beijava sem parar.
Enlevada pela recordação da doce voz de Mamãe viajava naquele doce balançar, que era quase um ninar, quando fui despertada por um empurrão. Recobrei os sentidos do susto que levara quando vi-me sem a caixinha na mão. 
Malva a pegara e, com seus pés, pisoteara a caixinha.
Não satisfeita, ao descobrir que algo havia nela, pegou seu conteúdo, ostentou-o como um troféu para que todos soubessem o meu segredo.
Agora todos sabiam meu segredo. Mas, ela malvada como era, pegou a foto de Mamãe e rasgou-a em pedacinhos pequeninos.
E levaram-na... mais uma vez, de mim. Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...