A decisão

Recostada naquela parede eu tinha somente duas alternativas. Transpor aquela porta, ali a minha frente, ou retornar e enfrentar.

Encontrei-o num site de relacionamentos. Era louro, de olhos azuis e tinha um sorriso de anjo – parecia anjo – seus cabelos encaracolados que em meus dedos enroscavam sempre lembravam a imagem angélica que formara em minha mente nas aulas de catecismo.

Fazia dois meses que terminara meu namoro e procurava algo diferente para cicatrizar as feridas que meu ex-namorado deixara. Vivi com ele um sonho de amor. Era meu deus de ébano e tinha na maciez da pele a mesma maciez das doces e suaves palavras de amor.

Quis o destino que ele conseguisse uma bolsa para estudar na Europa e durante os próximos cinco anos não mais retornaria. Para não o atrelar a um compromisso à distância e que não sei se vingaria depois de tantos anos decidi terminar. Ele se fora, mas em mim o amor ficara.

Nos primeiros dias, não comi, quis morrer.

Depois de tanto ouvir os conselhos que todos me davam resolvi sair daquele estado vegetativo e prosseguir com a vida.

Retornei ao trabalho e com ele, a rotina que antes não existia, pois amava o que fazia. Era professora de uma turma encantadora – e agora o soar das vozes e dos risos das crianças feriam-me fundo n’alma.

A felicidade delas era o meu desespero. Tornei-me amarga, fria, resmungona e impaciente.

Naquela noite, depois do jantar que desceu rasgando minha garganta, resolvi navegar para esquecer o dia exaustivo que tivera.

Criara um perfil num site desses de relacionamentos, lembro-me bem o nome “Vai Quem Quer, Fica Só se Quiser”. Foi interessante para mim naquele momento, pois pela primeira vez sorri. Aquele nome bobo me fez sorri e resolvi entrar.

Algum tempo depois entrei e vi a seguinte mensagem "Oi delícia me adiciona" e a seguir o endereço.

Voltei a sorrir de novo e o perfil era interessante. Gato loiro, 28 anos, carinhoso... pensei...

Por que não?

Adicionei, começamos a tecer.

A partir daí a trama de minha vida seria outra. Eram longos papos e do lado de lá um doce rapaz me encantava cada vez mais.

Marcamos o encontro.

Tirara uma licença de dez dias alegando problemas de saúde e fui ao seu encontro. Viajei ao Rio, hospedei-me num bom hotel e coloquei uma roupa bem levinha para ir ao seu encontro.

Quando cheguei ao saguão do hotel lá esta ele me esperando com um lindo buquê de rosas roxas e no centro uma belíssima orquídea roxa com matizes brancos.

Senti que não me decepcionaria ele era tudo que eu imaginava. Quando me aproximei entregou-me o buquê e disse que não estava altura de tão bela dama, uma princesa.

Enlevada pelos galanteios a mim dirigidos ali, saímos para jantar e depois fomos passear na orla marítima. Estava tudo perfeito. Tudo conspirava para o amor. O céu estrelado, a brisa do mar, a lua majestosa no céu. Ali mesmo na praia nos amamos e foram dias de puro amor e trocas de juras eternas. Como foram doces e ternos aqueles momentos.

Retornei para casa e fui correndo ligar o PC para dizer-lhe que chegara bem e que já estava com saudades. Ao ligar o meu PC uma janela se abriu. Você recebeu uma mensagem enquanto esta off line. Abri-a correndo, pois era de meu amor.

 A frase era uma só. “Foi bom, bem-vinda ao inferno você agora compartilha também a minha dor, sou aidético”.

Senti o mundo ruir sob meus pés, chorei, desesperei-me, procurei-o nas páginas da internet e não mais encontrei.

Aqui, nesta estação, rememoro tudo que passei. Se voltar terei um mundo de discriminação e dor para enfrentar se prosseguir nem sentirei dor.

Ouço o trem... decidi.

Vou voltar.